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Tá lá no Aurélio: “nobre” vem do latim “nobile” e significa, entre outras coisas, “distinto, célebre, generoso, majestoso, excelente, sublime”. Não por acaso, a cidade de Nobres, no Mato Grosso, leva este nome – e no plural. Mérito da beleza impressionante das águas e da fauna que pode ser encontrada lá, escondida do mundo. Quer dizer, mais ou menos: a cidade recebe a visita freqüente de turistas alemães, vindos lá de longe para se encantar com as nossas próprias maravilhas que a gente, tão pertinho, ainda não descobriu.
Inevitável comparar a beleza de Nobres com os atrativos de Bonito, no Mato Grosso do Sul. A riqueza da fauna aquática é impressionante em ambos, mas alguns locais me contaram algumas curiosidades e diferenças entre os dois santuários ecológicos. A principal é que em Nobres existem muitas áreas de desovas de peixes, o que faz com que seja relativamente fácil você encontrar peixinhos jovens, bem pequenos (como os da foto), nadando junto aos grandões – em Bonito é mais comum encontrar peixes grandes. O que vale, portanto, reforçar o cuidado e a preocupação que é preciso ter no local – e existem, para isso, algumas dicas especiais, listadas timtim por timtim lá ao final deste post.
Mas vamos ao que interessa...
Passeios em Nobres – o que fazer de bom por lá (e porque você tem que ir já)
Ah, muita coisa! Nobres é apaixonante – belo na exata proporção do quanto é desconhecido do público.
De passeios, existe o Balneário Estivado, a Lagoa Salobão, o Reino Encantado (nome merecido, aliás), o Rio Triste (triste é não ter ido), a Cachoeira da Serra Azul e a Lagoa das Araras (belíssima). Fora, ainda, atividades como o bóia-cross e rafting.
Os passeios que eu fiz – e portanto, assino embaixo de olhos fechados, foram:
Aquário Encantado: merece o nome. Literalmente, um aquário natural escondido entre as árvores, com as águas de um azul límpido (em função da presença forte de magnésio) e uma variedade de peixes impressionante. A idéia é mergulhar com snorkel e se deixar levar, boiando sobre a superfície e contemplando a beleza dos bichos nadando de lá para cá.
A beleza, ali, é obra do conjunto: o azul cristalino das águas surpreende, e é realçado pelos peixes, pelo reflexo do verde da mata, pelos feixes de luz que entram pelas arvoras e pelo branco imaculado da areia ao fundo. Acho que mergulhar ali é o mais próximo possível do silêncio contemplativo de uma meditação.
Os peixes são um espetáculo à parte. Grandes, coloridos, enormes. Uma aula de biodiversidade brasileira ao vivo.
Tinha também Dourado, Pintado, aquele peixe Mato-Grosso (super popular nos aquários tradicionais), só que bem maior do que conhecemos, claro. Havia também piranhas, mas poucas delas e, segundo a guia, inofensivas porque elas só atacam em bandos (e ali, no meio de tantos outros peixes, acho que elas ficaram inibidas!). E não estranhe se, durante o seu mergulho, você sentir pequenas beliscadas na ponta dos dedos: é um peixinho pequenininho chamado popularmente de “manicure” que gosta de ficar beliscando nossas unhas! Mas calma: não machuca e nem estraga, é só divertido mesmo!
Flutuação no Rio Salobra: fica ao lado do Aquário encantado. É um rio cuja água, ao contrário do nome, não tem nada de salobra, mas que rola uma leve correnteza. Então, a idéia ali é colocar o snorkel e deixar a água levar o corpo, flutuando ao longo do rio e deixando a água e a vida te levar. Tipo do passeio que, ao final, quem sai da água é só você – os problemas, estresses e preocupações ficaram lá trás pelo caminho.
Como organizar a viagem:
Nada impede que você alugue um carro em Cuiabá e vá por conta própria (embora eu particularmente não achei as estradas tão bem sinalizadas assim, então procure se garantir com um mapa e dicas dos locais), mas algumas agências também levam para lá. Existe uma agência da CVC viagens perto do centro de Cuiabá que organiza passeios até lá (Rua Isaac Póvoas, 860 – veja como chegar láaqui). Ou, ainda é possível fechar direto com o próprio albergue. Em Cuiabá quem funciona é o Portal do Pantanal, filiado ao HI Hostel, e que organiza passeios de um a dois dias para a cidade. Da última vez que vi, os valores giravam em torno de R$ 350 reais por pessoa (transporte, passeio e refeição) e por dia, mas isso depende de quantas pessoas vão no grupo. Por isso, é melhor entrar em contato direto com eles e perguntar!
Como chegar a Nobres:
Nobres fica a 150 quilômetros de Cuiabá, e a viagem até lá é um pouco cansativa. Isso porque existem duas opções de estradas para chegar lá: uma é a BR 163, que é meio ruinzinha e contempla um bom trecho de terra, o que faz com que seja mais prudente diminuir a velocidade. A segunda opção, pelo Manso, a estrada já é bem melhor asfaltada e, em alguns trechos, é possível ver o lindo paredão de pedra da Chapada dos Guimarães ao longe – mas também inclui um trecho de obras e péssima, péssima estrada de barro. Certamente quando as obras forem concluídas, acredito que esta seria a melhor opção para chegar.
Mas não adianta: o deslocamento dura em média duas horas. Mas se o tédio tomar conta na viagem, minha dica é exercitar seu olhar de viajante: é bem comum ver pés de pequi, bocaiúva e caju nas margens da estrada (muitos carregados, inclusive). Experimente dar uma encostadinha no acostamento de vez em quando para pegar algumas frutas direto da árvore. O Chico Bento e a sabedoria popular já diziam que fruta do pé é mais gostosa!
Quanto tempo ficar:
Eu fiquei um dia só e já valeu a pena, mas poderia ter perfeitamente ficado dois. Coisa não falta em Nobres para conhecer e fazer. Então, já que lá já é chão para pegar, estique sua estadia para aproveitar ao máximo.
Onde ficar:
Quem for pelo albergue, pode acertar direto com eles. Eu fiquei na Pousada Recanto Ecológico Lagoa Azul, na Vila Bom Jardim, em Nobres. A pousada é bem simpática. Considerando as minhas expectativas depois que muitas pessoas me informaram que Nobres não tem muita estrutura, achei que essa pousada me surpreendeu positivamente. A comida é gostosa (caseira, com algumas saladas e as sempre presentes opções de peixe e carne) e redes – providenciais – para embalar a sesta pós-almoço, altamente convidativa no calorzinho mato-grossense.
Mas o melhor da pousada mesmo é a anfitriã: Dora, uma arara canindé com alma de cachorro. Isso porque ela vem até você, pede carinho, reclama se você não dá atenção e ainda tem roubar a sua comida (experimente andar por perto com um picolé, por exemplo). É mole?
A pousada também organiza os passeios pela cidade. Preços e detalhes podem ser vistos com o dono, “seu” Vicente, um senhor muito gente boa. É possível entrar em contato com ele através do site, telefones (55 65 9969 0259 ou 9627 9944) ou do e-mail vicente@anaconda.tur.br
Quando ir a Nobres:
Em geral, o Mato Grosso tem duas épocas: a cheia (de novembro a março) e a seca (de abril a outubro). A época de cheia não chega a interferir na visibilidade da água não, de modo que qualquer época é boa se pensarmos por esse lado. O único detalhe é que na época de cheia os mosquitos estão especialmente ativos (eu diria, sedentos!). Então, vá, mas vá preparado!
Algumas dicas importantes:
Protetor solar: leve e passe, mas não antes de entrar na água, para evitar que a química do produto contamine a água;
Repelente: absolutamente necessário, especialmente se você em época de chuvas, quando os mosquitos estão especialmente atiçados. Mas, assim como o protetor, leve a tiracolo e passe imediatamente assim que você sair da água (você vai sentir o porquê na pele) mas nunca antes de entrar na água.
Machucados e cortes na pele: evite entrar na água se estiver com um machucado muito feio. Mas se já tiver formado aquelas “casquinhas”, sem problemas.
Cuidado com os pés: instrução de praxe a todos que fazem o passeio: não coloque os pés no chão, em hipótese nenhuma. Primeira razão: porque ao fazer isso, você “levanta” a areia do fundo do rio e prejudica a visibilidade da água, uma vez que demora para ela assentar de novo. Segunda razão: você acaba interferindo em um eventual local de reposição de ovos de peixes ou comida para peixes pequenos.
E, caso nada disso convença e ainda tenha um mané fanfarrão no seu grupo que queira pôr o pé do mesmo jeito (impressionante como sempre tem um nas viagens!), a guia calmamente explica que no fundo ficam escondidas muitas arraias de água doce, e é grande o risco de pisar em uma e levar uma bela ferroada.
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